Os impactos dos riscos ocupacionais hospitalares na saúde das trabalhadoras gestantes são pauta de artigos publicados pela tecnologista da Fundacentro, Soraya Wingester Vasconcelos, em parceria com especialistas das Universidades do Porto (U. Porto) e da Federal de Minas Gerais (UFMG). Os estudos foram publicados na Revista Brasileira de Medicina do Trabalho (RBMT) e no livro Occupational and Environmental Safety and Health V (OESH-V).
Complicações gestacionais nas trabalhadoras da área da saúde
Em “Gravidez e condições de trabalho no setor hospitalar: uma revisão de escopo”, disponível na RBMT, as autoras realizam um levantamento de evidências científicas sobre os riscos ocupacionais aos quais as trabalhadoras grávidas estão expostas e as causas do absenteísmo.
As complicações mais comuns na gravidez dessas profissionais são as dores no pescoço, nas costas e na cintura pélvica. Também foi constatado que o trabalho noturno e por turnos são fatores de risco que podem desencadear o aborto espontâneo, o trabalho de parto prematuro e distúrbios hipertensivos da gestação.
Os resultados da pesquisa ainda evidenciam a lacuna e a necessidade de estudos específicos sobre questões relacionadas à proteção da maternidade e ao trabalho das trabalhadoras gestantes no setor hospitalar.
“A maternidade impõe muitos desafios às trabalhadoras devido à legislação inconsistente de proteção à maternidade, inexistência de licença parental remunerada, perdas financeiras e de oportunidades de carreira. […] Convém considerar mecanismos que possam dificultar ou facilitar a aplicação de medidas de proteção à maternidade em diferentes níveis para reduzir as desigualdades de acesso. Além disso, é essencial reconhecer a discriminação contra gravidez e gênero no local de trabalho e inserir regras específicas de proteção à maternidade na legislação de saúde e segurança ocupacional, em nível nacional”, concluem as especialistas.
Avaliação e percepção de riscos ocupacionais
A exposição das trabalhadoras grávidas a riscos ocupacionais pode levar a complicações gestacionais, principalmente no ambiente hospitalar. A avaliação destes riscos e como as trabalhadoras da saúde os percebem são fundamentais para a proteção da maternidade no ambiente de trabalho.
Atentas à questão, a tecnologista da Fundacentro e especialistas da U. Porto e da UFMG realizaram uma revisão, com o uso da extensão para scoping reviews do Prisma, sobre avaliação e percepção dos riscos ocupacionais para levantar métodos e ferramentas replicáveis no ambiente de trabalho hospitalar.
Intitulado “Hospital work environment and maternity protection: a scoping review on assessment and perception of occupational risks”, o estudo utilizou bancos de dados on-line para identificar artigos científicos que forneçam métodos, instrumentos e ferramentas adaptáveis para avaliar e perceber os riscos ocupacionais na área.
Ainda, discutiu a integração e a qualidade dos métodos e técnicas levantados, as possibilidades de usá-los para proteger a saúde das trabalhadoras grávidas, lactantes ou em idade fértil, e o apoio da gestão para avaliação de riscos e proteção da maternidade nos ambientes de trabalho.
“A integração e a qualidade dos métodos aumentam a robustez da avaliação e percepção dos riscos ocupacionais, permitindo medidas preventivas mais efetivas para proteger a saúde reprodutiva das trabalhadoras”, afirmam as especialistas.
“O apoio da gestão é essencial para avaliar e compreender os riscos ocupacionais das profissionais de saúde, aumentar a adesão às medidas preventivas e proteger a saúde. É necessária a elaboração de normas específicas para cuidados preventivos voltados às trabalhadoras gestantes e o estabelecimento de regras de cooperação entre médicos do trabalho e ginecologistas-obstetras”, explica Wingester.
O trabalho está publicado no livro OESH-V, que traz a compilação dos temas tratados durante o 20º Simpósio Internacional de Segurança e Higiene Ocupacional (SHO 2023), realizado em julho deste ano, em Portugal.
Fonte: https://www.abmt.org.br/noticias/fatores-de-risco-ocupacionais-podem-impactar-a-saude-das-trabalhadoras-gravidas/